6 de dez. de 2010

O interesse pelo estudo partiu de uma aula do Programa Curricular Interdepartamental "A criança, a escola e eu", para o alunado do primeiro período da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre “Bullying na Escola”, onde surgiu o questionamento: “O que fazer quando um estudante soropositivo, em idade escolar, se machuca e sangra numa brincadeira em grupo?”. Esta dúvida nos fez refletir e motivar a pesquisar sobre o tema. Agora, o trabalho de bioestatística viabiliza mostrar a importância do assunto, através da análise dos dados coletados. A avaliação de campo foi substanciada em um questionário feito a docentes de instituições públicas e privadas da rede de ensino do estado do Rio de Janeiro. O questionário visa avaliar o nível de informação dos professores e a opinião dos mesmo quanto a atuação dos profissionais de enfermagem na escola.

A falta de informação sobre as formas de transmissão do HIV/Aids por parte dos profissionais e dos responsáveis pelos alunos é a principal barreira relacionada à criança soropositiva e a escola, a pesquisa define-se em estender a prática das ações educativas da enfermagem, para orientar, capacitar e promover a reflexão dos educadores que atuam com crianças soropositivas em idade escolar à temática do HIV, garantindo aos escolares portadores do vírus a promoção da saúde sem atitudes preconceituosas e discriminatórias e, além disso, desenvolver um pensamento humanitário, saudável e seguro dos docentes.

Relações estatísticas da criança com Aids 

A AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida) teve seu primeiro caso diagnosticado em 1982, e desde o início da epidemia até 2009 fora notificados 544.846 casos de AIDS no Brasil. Em 1983 foi diagnosticado o primeiro caso de AIDS em uma criança. Observando essa doença na faixa etária de 5-12 anos encontramos os seguintes dados:




Em relação aos casos de óbitos referentes ao Brasil temos:


Em relação aos casos da exposição ao vírus temos:



Visto a dificuldade que as pessoas com AIDS enfrentam, não só em relação a sua saúde, mas também em relação ao preconceito diante da sociedade, ter que lidar com um estilo de vida mais cuidadoso e com a falta de atendimento e medicamento especializado, atentamos para essa faixa etária de 5-12, e se as escolas possuem profissionais orientados e qualificados para inserir essas crianças com os devidos cuidados e respeito na sociedade, visando também a qualidade de vida dessas crianças.

Observadas as problemáticas do ambiente social escolar e a atuação da enfermagem no âmbito escolar, esta orientação aos profissionais da educação seria ministrada seguindo diretrizes legais. Com base na Constituição Federal e amparada no Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como o BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 53, de 13 de Julho de 1990. “A criança e o adolescente tem direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício de cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola:” e o BRASIL. Art. 54 “É dever do Estado, assegurar à criança e ao adolescente: VII – atendimento no ensino fundamental através de programas suplementares de material didático – escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.”.


Análise dos dados coletados

Dos entrevistados a maioria era do sexo feminino e atuam em escolas da rede publica de ensino, como pode ser visto na tabela 1 e tabela 2 respectivamente.

           Tabela 1. Distribuição por sexo dos professores entrevistados (n=11).

SEXO
Fi
Fi%


FEMININO

MACULINO




9

2



81,9

18,1
TOTAL
11
100



                                        Tabela 2. Distribuição por rede das instituições de ensino.

INSTITUIÇÕES DE ENSINO
Fi
Fi%

PÚBLICA

PRIVADA


10

1

91

9
TOTAL
11
100
      
A maioria dos entrevistados (n= 7) relataram nunca ter assistido palestras ou filmes ou algum evento que falasse sobre a criança soropositivo HIV+ na escola (tabela 3) e 100% deles demonstraram que acham importante o professor ser capacitado por um profissional de saúde para lidar com escolares soropositivos HIV+. A orientação dada pelos profissionais da saúde também é importante para prevenir atitudes preconceituosas e discriminatórias para com as crianças portadoras do HIV.


              Tabela 3. Orientação recebida sobre como lidar com uma criança soropositiva na escola. 
ALGUMA ORIENTAÇÃO
Fi
Fi%

SIM

NÃO


4

7

36,3

63,7
TOTAL
11
100



Relações comparativas da proposta da pesquisa e os dados coletados

A temática deste estudo é delicada pelo fato de o escolar HIV positivo ter direito ao sigilo sobre sua condição, neste caso a melhor forma de resolver é mesmo através da

informação que os profissionais da escola devem receber para poder desempenhar atitudes comuns a todos, porém com atenção e cuidado, já que ele não sabe se o aluno é soropositivo. Porém todos os entrevistados acham importante a instituição de ensino ser informada pelos responsáveis que aquela criança tem HIV, pois eles acham que com essa informação a escola pode se preparar melhor para lidar com esse aluno, visto que em certas ocasiões ele pode precisar de uma atenção especial.

Todos os professores entrevistados também concordaram que a escola e os professores têm que proporcionar condições para que esse aluno seja inserido normalmente no ambiente escolar através de conversas, debates e esclarecimentos sobre a doença, sendo o enfermeiro como um multiplicador de conhecimento, pois ele passaria a informação aos professores e esses para os alunos, e é preciso que compreendam que essa doença é grave, mas que o carinho e a completa inclusão desse aluno é a melhor forma de tratar a AIDS.

Segundo Seidl et al (2005), entre os motivos apresentados pelos cuidadores para realizarem a revelação à escola, foi mencionada a necessidade de justificar as faltas da criança na escola (em função de internações, idas ao médico etc.) e de obter ajuda para a administração da medicação durante o período escolar. Nos casos de não informação sobre o diagnóstico, é o medo do preconceito e da quebra do sigilo por pessoas da comunidade escolar foram razões citadas para a não revelação da soropositividade da criança/adolescente. Constataram-se ainda dúvidas e inquietações de alguns cuidadores pelo fato de não terem revelado o diagnóstico para a direção e/ou professores, receosos de estarem infringindo aspectos éticos ou regras relativas à obrigatoriedade desse tipo de informação na escola.

Nosso estudo também revelou que a maioria dos professores não sente medo em relação ao enfrentar essa situação de ter um aluno soropositivo, mas demonstram preocupação por não terem obtido orientações sobre o assunto. Por exemplo, se um aluno soro positivo se machucar, como agir?



Dos entrevistados 7 responderam que usariam luvas, 1 encaminharia o aluno para a coordenação, 2 avaliariam a situação para ver como proceder e 1 não saberia como agir, e 3 falaram que tomariam os devidos cuidados para não fazer alardes e expor o aluno. Com esclarecimento e orientação da enfermagem em casos como esse, o professor saberia como agir, o que coopera para a integração dessas crianças, pois seus pais se sentiriam mais seguros em deixar seus filhos portadores de HIV freqüentarem a escola, sabendo que ali existem profissionais bem orientados e qualificados para agir em determinadas situações.

Nenhum dos entrevistados já tiveram alunos soropositivos, pelo menos que eles soubessem.

A atuação do profissional de enfermagem na escola estará visando a atenção integral e interdisciplinar a familiares e crianças que convivem com HIV, garantindo mais qualidade de vida e integração social aos familiares e a essas crianças.

Constatou-se pela analise dos dados que os professores querem e precisam da orientação dos profissionais de enfermagem, mostrando que a maior parte das instituições de ensino do nosso país tem uma grande deficiência quando o assunto é como lidar com alunos soropositivos para o HIV. Devido a essa deficiência, crianças soropositivas vêm sofrendo com a falta de informação dos profissionais atuantes na escola.

Em alguns casos, o preconceito com essas crianças existe devido à falta de informação sobre a transmissão do vírus, fazendo com que muitos professores se recusem a reger turmas pelo medo e por não saber como agir em situações como troca de beijos, compartilhar merendas e talheres ou mesmo abraços. Sendo que o vírus não é transmitido por este tipo de contato social, com isso não há necessidade de restringir o convívio entre as crianças portadoras do HIV com as demais do grupo escolar.





Essa problemática deve ser enfrentada com muita informação baseada na legislação, garantindo os direitos das crianças. Em suma, é necessário o envolvimento do enfermeiro na realização de palestras e na organização de projetos com a temática: “O cuidado da saúde do escolar soropositivo, tendo como principal objetivo capacitar os professores e funcionários a lidar com essas crianças”.

As palestras consistem em conteúdos informativos sobre a transmissão do vírus, história e evolução da AIDS, a transmissão vertical da mãe para o filho e outros meios de transmissão da síndrome para crianças. Será conteúdo importante para os docentes a relação família-escolar-professores implicando na questão da influencia da escola na socialização do indivíduo. Haverá abordagem nos direitos da criança e do adolescente como cidadão legítimo. Serão discutidas eventuais situações no âmbito escolar e a geração de instruções básicas de ações de promoção da saúde.



Todas as orientações prestadas ao professores têm além do objetivo de passar informação para melhor cuidar dessas crianças, e ampliar o campo de atuação da enfermagem, também tem como pretende promover a inclusão social dessas crianças já que elas possuem condições físicas e psíquicas compatíveis com a rotina escolar, e por isso podem e devem freqüentar a escola sem qualquer restrição. 

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